A Mecânica na Idade Média
Instituo de Física da USP (Universidade de São Paulo)
Santo Agostinho
O período helenístico é marcado pela continuidade da predominância da cultura grega nos reinos helênicos da Macedônia, Síria e Egito. A conquista dos reinos helênicos, por parte dos romanos, marcou o fim da Antigüidade e o início da Idade Média, que durou cerca de mil anos (do século IV ao XIV d.C.).
Quando a Grécia foi conquistada iniciou-se um processo de assimilação da cultura grega pelos romanos. Durante esse período, os pensadores dedicaram-se sobretudo a desenvolver as contribuições culturais dos gregos, criando o pensamento greco-romano, sem abrir caminhos muito novos na reflexão filosófica.
No império romano houve, em particular, grande evolução na teoria e na prática do Direito, mas os romanos não tinham muito interesse pelas outras ciências. Esse desinteresse existia também entre os proprietários feudais e a Igreja durante a Idade Média. Assim, a ciência permaneceu praticamente estagnada por muitos séculos.
Em meio à desagregação do Império Romano, decorrente em grande parte das invasões bárbaras, a Igreja conseguiu manter-se como instituição social organizada, difundindo o cristianismo entre os povos bárbaros e preservando muitos elementos da cultura greco-romana, então chamada de pagã.
Com a fragmentação política e as rivalidades da nobreza feudal na sociedade medieval européia, a Igreja passou a exercer um importante papel político e cultural, na função de órgão supranacional, isto é, acima dos interesses nacionais. Tendo também conquistado ampla riqueza material, ao tornar-se proprietária de aproximadamente um terço das áreas cultiváveis da Europa ocidental, a Igreja pôde estender o seu poder a diferentes regiões européias.
Com o poder da Igreja, o saber filosófico não perdeu aquele significado amplo e universalizante que possuía na Grécia Antiga, mas não pôde mais ser caracterizado como uma investigação racional em busca do conhecimento e da verdade, porque a fé religiosa se tornou o fundamento da sabedoria humana ao invés da razão. Segundo essa orientação, a filosofia deveria não descobrir a verdade, uma vez que esta seria revelada por Deus através das escrituras e da doutrina da Igreja, mas demonstrar racionalmente as verdades da fé.
Alguns religiosos desprezavam a filosofia grega porque nela viam uma forma de pensamento pagão, portanto, uma porta aberta para o pecado, a dúvida e a heresia (doutrina contrária à estabelecida pela Igreja). Por outro lado, muitos pensadores cristãos defendiam o conhecimento da filosofia grega, porque sentiam a possibilidade de utilizá-la como instrumento a serviço da religião. Para eles, a conciliação entre a filosofia grega e a fé cristã permitiriam à Igreja enfrentar os descrentes e demolir, com argumentação lógica, as heresias, isto é, as afirmações contrárias à verdade, entendida como a revelação de Deus através das doutrinas religiosas. Daí a defesa das idéias de Platão e, principalmente, de Aristóteles sobre o universo. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino foram representantes deste tipo de filosofia desenvolvida na Idade Média pelos pensadores cristãos.
Nesse período de obscurantismo científico na Europa, o recém-nascido Império árabe, que no século VII se instalou ao sul do Mediterrâneo e chegou à Espanha pelo Estreito de Gibraltar, incorporou à sua cultura elementos da cultura grega, através do estudo e tradução dos manuscritos salvos das bibliotecas helênicas, parcialmente destruídas pelas guerras. No ano 800, Haroun Al-Rashid, da história das Mil e Uma Noites, fundou uma escola de ciências em Bagdá, e a cidade de Córdoba, na Espanha, tornou-se o centro cultural do império árabe na Europa. Os árabes promoveram progresso considerável em matemática, desenvolvendo a álgebra (nome de origem árabe), que não era conhecida pelos gregos, e introduziram os algarismos arábicos, que tornaram os cálculos mais simples do que o sistema romano. Foi talvez uma das importantes manifestações do crescimento do conhecimento humano com a relação entre diferentes culturas.
Talvez o ano de 784 possa ser considerado o início do processo de revitalização da cultura européia. Foi nesse ano que o então dirigente do Império Franco, Carlos Magno, decretou que todas as abadias do Império deviam ter escolas anexas. No ano de 1100 foi fundada a primeira Universidade, a Universidade de Bolonha, na Itália, à qual seguiram um pouco depois as Universidades de Paris, na França, e Oxford e Cambridge, na Inglaterra, tornando-se todas rapidamente centros reconhecidos de atividades acadêmicas e culturais.